ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Olho para esta porcaria e não vejo nada, nada que se diga que se veja, que se diga que presta, trabalho de merda e o outro está aqui está a sarnar-me o juízo por causa dos prazos, e elas que não me saiem da cabeça, as duas à vez e depois mais uma que a outra e a do chinelo sempre aqui atrás de mim pintada de azul, sinto-a atrás do meu pescoço e a dos cabelos no sofá a rir, a enrolar bocados do cabelo nos dedos, quando me volto não está ninguém, uma porcaria de trabalho este. Olho os florões no tecto e dói-me cá dentro, peço desculpa pela miséria que apresento aqui em baixo no estirador, não sou um génio. Apetece-me chorar, chorar e esquecer que estou sozinho sem ninguém, ter pena de mim próprio por querer voltar atrás e voltar a dizer não que se pudesse dizia não outra vez, ficava sozinho outra vez, afinal também tenho direito a ter os meus momentos de desespero que diabo. O mal disto são estas gajas, aparecem e depois vão-se mesmo que um gajo diga para elas irem não é bem para elas irem de vez. Só de vez em quando.

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