ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Acordo com o barulho das chaves a tilintar na mão da russa à porta do quarto e a voz de caramelo a dizer-me para ir tomar banho que homem grande não pode ficar na cama até à noite, tapo a cabeça, odeio esta mulher que acerta nas coisas e desejo ardentemente estar a sonhar, não sentir o cheiro de comida e que tudo desapareça, agarro o meu membro entre pernas e apetece-me ter uma mulher, apenas o acto em si, nada de outras coisas ou outros pensamentos complicados com frases à mistura em que se fazem perguntas e esperam-se respostas,  só me quero vir e espero que a russa não volte a entrar no quarto por amor de deus porque estou quase, quase. Sinto a mão a latejar ou o pénis ou a testa ou o pescoço e a voz da russa lá para dentro mas não sou capaz de responder, deixa-me daqui a um bocadinho já te digo tudo mas não agora miséria, tens de perceber que há momentos que são só meus e acabaste de me entrar no sono, no quarto, nos lençóis, na pele, é a tua voz que se infiltra, dá-me um tempo por favor. Aparece à porta do quarto com uma chávena de café e pergunta-se se estou decente, não te respondo russa mas obrigado.

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