ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Depois de ter entregue os trabalhos resolvi andar pela cidade, desta vez não trouxe o carro é uma estucha ter de arranjar lugar para estacionar e dar dinheiro para parquímetros mais vale dar a moeda ao elefante do jardim do zoológico. Mas esta Capital está velha, decadente, cada vez está mais cheia de animais e eu que pouco saio de casa e do meu bairro da minha rua não tenho paciência para estas incursões e logo me arrependi da decisão, os barulhos confundem-me e os sinais não dão tempo para atravessar e as pessoas são mal educadas, dão encontrões, cospem no chão e a quantidade de pedintes e dos que arrastam roupas e carrinhos assustou-me pela violência do número crescente desde a última vez que me tinha afoitado em semelhante aventura. Quando iniciei a subida na minha calçada e me senti de novo seguro como em terra firme, o rio ao longe avistado brilhante é que tive a certeza do forte em que me resguardava. Pensei na miúda de um chinelo sozinha, se estivesse comigo eu podía defendê-la daquela selvajaria toda e mostrar-lhe da minha janela a noite a chegar vagarosamente sem ruídos e sem medos.

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