Uma fotografia, uma noticia de jornal, uma carta da irmã dela com mais de um ano e documentação da embaixada a embrulhar tudo. Não há coincidências e eu não acredito em premonições, não sou um homem dado ao esoterismo sempre tive os pés assentes na terra mas é inevitável que o maldito pesadelo não me venha a boca como um bolsar azedo que se cospe de má cara, para quê lembrar o que estava enterrado e afinal quem está enterrado é ela, morta, uma morte sem significado daquelas que se costumam rotular como danos colaterais, uma chumbada perdida e ela achada no caminho, ela e o que carregava na barriga, a irmã a dizer que era meu e manda uma fotografia de quando nós éramos muito felizes, não tenho memória de retratos a dois nem de quando fomos muito felizes nem de saber que ela carregava um filho meu , só sinto a trovoada sobre o meu crâneo como um martelo. A esta altura já serão comida de vermes, principio de terra, tudo a desfazer-se tal como os sonhos quando se acorda sejam bons ou maus, a minha tristeza ficou lá, o filho que não tive está plantado na terra e no ventre-mãe e do que restou faço fogo para que regresse às cinzas, hei-de soprá-las janela aberta quando a noite se apresentar e aí, talvez aí essa fotografia não minta e sejamos realmente felizes.
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