Não saio de casa. Tenho medo que ela bata à porta, que tenha sede e que eu não esteja cá para lhe dar um copo de água, para a fazer entrar de quatro, ou para lhe dar um discurso sobre a minha casa não ser o aguadeiro municipal, qualquer coisa para servir de desculpa para a fazer entrar. Quero que ela entre, só desejo que ela venha mais uma vez, uma última vez que seja. Tenho levado os dias a imaginar que ela chega e que a dispo e que consolo a minha fome. Mas não de uma forma qualquer, só nua da cintura para baixo e apenas com um chinelo e segurando o pincel embebido na tinta azul enquanto desenha no cavalete próximo da janela fechada. A janela deve imperiosamente estar fechada. A noite é ciumenta, não me deve saber a amar e se suspeita que eu o disse a ela... para quê tudo isto? Eu já estou condenado, condenei-me no instante em que o soube e em que o disse. Eu sabia, sempre o soube. Só nunca tinha sentido.
Sem comentários:
Enviar um comentário