ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Estou cheio de frio, gelado, nem sei bem onde estou, os tectos a precisar de restauro, doem-me as costas, as pernas, mas as costas é o diabo, tenho qualquer coisa cravada nas costas, ah pois, os óculos, partidos e tinta azul por todo o lado... E Ela? Fome, tenho fome dela, que coisa esta que sinto dentro de mim que até faz mal, ela onde está? Pegadas de azul até ao quarto, casa de banho, onde se terá metido? Nada, apanhou-me a dormir e foi-se, tomou banho e foi-se, deu-me de comer e foi-se, como é que vai ser a partir de agora... era isto que eu não quería. E quando a noite chegar o que irá ser de mim, assim sem ela, a janela toda aberta a noite a entrar e eu aqui só? E esta fome a devorar-me, lenta como a noite sabe ser, envolvente como a loucura, aos poucos sem aviso, há-de sentar-se à mesa e servir-me à boca. É como se estivesse já morto.

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