ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Acordo com o barulho de um trovão no meu peito ou uma pedrada no crâneo não sei bem qual delas ou talvez as duas coisas em simultâneo, salto da cama e ouço o meu nome, penso nela e penso que não sabía que ela sabía o meu nome. É a vizinha. Abro uma nesga da porta e ela vai tentando empurrar para espreitar cá para dentro, faço força que a mulher é possante, que horas são isto, isto são horas de almoço vizinho, um convite para o almoço de Natal, não é de cristão um homem ficar sozinho neste dia e há perú e fatias paridas, empurro e ela empurra, ficamos nisto e nas desculpas que eu não quero mas ela quer que tenho de ir e não se fala mais no assunto, que depois que a rapariga saiu daqui de casa e deixou a escada toda suja de tinta azul, o vizinho sabe, a sua modelo, a rapariga trabalha para si não é vizinho, pois claro que sei que a conversa agora interessa e já acordei e claro que estou cheio de fome, então cá o esperamos para o perú. Fecho a porta. O meu coração deixou de bater. Estou cheio de sede. Nem sabía que hoje é dia de Natal, agora percebo o gajo da tasca.

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