ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Primeiro estaco-me no movimento mas depois aproveito-lhe o fio de água e diluo a tinta nesse sal natural deslizando o pincel desde o rosto, pelo pescoço, curvando entre os peitos, a direito no ventre e desaparecendo entre o sexo, não sei o que faço ou só agora o sei, tenho fome como nunca tive mas uma fome diferente e única em que me apetece comer mas que receia não conseguir parar por insaciável, por mais fome ficar a sentir. Cai-me o pincel da mão dormente, não sinto corpo em mim, só a boca, ela ajeita-se à minha boca, é gosto de tinta e de mar e depois só de mar, só mar forte a apertar-me com as pernas e esta fome a abocanhar tudo e o coração na boca e o mar na boca e sinto a respiração dela como um cavalo a trotar e gosto, e gosto e amo.

Sem comentários: