ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
É ela, é ela digo ao gajo da taberna e ele não liga e palita os dentes, pano ao ombro, só olha sombrio a chuva que cai como se fossem lentes que lhe tirassem a visão do que lhe passa à porta, diz que não vê nada, um dos velhos  diz que está no tempo dela e depois todos falam do tempo, não é nada disso seus fósseis é ela descalça será que não a viram? Saio disparado mas o taberneiro desata aos berros por causa da despesa e mando-o para entre pernas e devolve-me para o mesmo sitio. Mimos. É o aconchego de se viver num bairro que nos é querido. Não a vejo, não vejo nada, estou ensopado, o rio subiu a calçada e resolveu verter-se sobre mim deixando o leito seco. Logo mais quando espreitar a anunciada da noite hei-de encontrar uma cova e peixes a tentar desesperados acharem uma vida na lama. Não sei porquê assusto-me e sinto frio. A chuva pinga-me da barba. Nada que um copo não aqueça e por isso retorno ao tasco.

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