Batem-me à porta, deve ser a vizinha ouvi-lhe o som monocórdico com uma outra, uma ladaínha que faz parte dos sons da rua, não ligo pode ser que se vá, estou a trabalhar, de novo, não estou, deve querer conversa para depois ter conversa com a outra para dizer que sabe tudo, mas insiste, que merda não me largam, abro a porta num rompante. Que é que tu queres, já não te disse para não vires aqui, água, mas que água isto não é o da joana, o que é que tu queres daqui, vai para casa, tem vergonha nessa cara e vai para casa. A puta dos chinelos. Sem um chinelo, a pé coxinho. Tem os pés encardidos. Sinto os passos pesados e arrastados da vizinha a começaram a subir os degraus. Parece que esfrega as solas na madeira por cada vez que poisa o sapato. Vai ser bonito. Vai haver conversa até aos Reis e não vai despegar daqui até se enfiar cá em casa. Estás a ver o que é que me arranjaste, entra depressa e nem um ai.
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