ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Agarro no bloco e no lápis e fico parado. Há quanto tempo é que eu não faço isto, acho que desde os tempos do curso, acho que já nem sei desenhar à vista sinceramente, ainda por cima um modelo vivo, se fosse uma abóbora ou uma jarra ou os florões do tecto era diferente agora uma gaja, quer dizer esta miúda assim, aqui à minha frente, toda descascada não sei. Ela está à espera, sei que está à espera, bom alguma coisa há-de saír. Já está, não, não está e fica quieta e se calhar é melhor saíres da janela senão tenho a vizinhança toda aí a bater-me à porta, só digo isto para empatar porque na verdade estou-me a borrifar para o que possam dizer. Pronto. Mostra. Não diz nada. Tem as mãos sujas. Mas não diz nada. Mas que merda, podía dizer alguma coisa, se está bem se está mal, mas nada. Agora eu. Que é que tu queres dizer com isso? Agora é a minha vez de te pintar.

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