Não há salvação para quem não quer ser salvo e eu não quero. Abalei-me para o tasco e perdi a noção do tempo, dos copos e da figura que devo ter feito porque hoje a vizinha estava sentada aos pés da minha cama a fazer crochet e a velar pelo meu sossego, como me disse depois quando me trouxe uma canja para sossegar o estomago de tanto demónio. Não sei como entrou, como eu entrei, o que se passou, desta vez deve ter sido de caixão à cova, nas palavras da vizinha foi uma grande carroça vizinho, deve ter sido, mas não o suficiente para a levar daqui para fora, já me chegam de gajas cá por casa. Comi a sopa, enxotei delicadamente a vizinha e fui ver o que resta do meu trabalho. Nada, um monte de papel seco e duro, muito colorido bom para forrar o contentor do lixo da câmara municipal.
Mas não chegou a tanto porque o quente da canja misturada com o pé do barril deu-me uma volta e vomitei-me todo para cima desta obra de arte. É nestas alturas que me lembro da minha mãe, a mão da minha mãe na minha testa. Mordo a lingua. Há uma mulher que faz falta na minha vida.
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