ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Finalmente. Sózinho finalmente. Eu e o silêncio. Conseguir ouvir-me. Porque será que as mulheres são tão ruidosas, mesmo caladas são sempre ruidosas, há sempre qualquer coisa nelas que faz um barulhinho qualquer, até mesmo os silêncios nelas têm qualquer coisa que manifesta um som. Eu berrei. Tive de berrar ou ela não parava e não saía. Claro que tinha de chorar. Foda-se. Foi-se embora e levou a malinha dela e entornou-me as tintas por cima do trabalho de dois meses. Não bastava ter-me lixado o dia e a cabeça também tinha de rebentar-me com o projecto. E os tectos. Como estarão os tectos? É isto. Chegou como um furacão, instalou-se, lambeu o que quis e depois de tudo devastado foi-se. Nada sobra. Fica-me uma janela para a noite. Se esta hoje se lembrar de chegar.

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