ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Por mais que me atirasse sobre o plano este nunca deixou de estar como sempre esteve, mentira, ficou com alguns circulos do fundo do copo, uma bonita cor aguarelada impossível de reproduzir à força de pincel. Belas marcas, belo tinto, boas memórias. Quase sinto um alívio de pequena alegria. Ou um cansaço sobre o pescoço pela falta de sentir a respirarem por cima de mim, os cabelos a fazerem-me comichão sobre a nuca nas tardes de electricidade vermelha que antecedíam um calor peganhento e num segundo rebentavam os tímpanos na água a direito. Era nessas tardes que eu melhor mentía, tão fácil dizer que havía de voltar se nem a mim eu conseguía ouvir. Depois tudo passava. Até o medo. O das perguntas. Porque havía sol claro e África era só um continente, não era a mulher que se deitava comigo antes do anoitecer.

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