ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Ao subirmos a escada apercebo-me que não há qualquer ruído a calcar os degraus o que me deixa uma sensação estranha pois o minimo que esperava era um som picado, uns saltos finos na madeira moida pelo tempo, mas nada. Só quando abro a porta de casa e a convido a entrar à frente e a miro nas costas é que me apercebo que vem de chinelos. Chinelos de borracha, devo estar grosso de certeza, paguei por uma prostituta de chinelos de enfiar o dedo, ao que eu cheguei ou então ao que ela chegou, devo ser o último do dia, vai-me despachar num ápice, lavar-se e vai a correr para o chulo entregar-lhe o guito e eu que me lixe. Já não bastava eu ter de pagar, dantes eram elas que me davam borlas agora isto. Senta-se, levanta-se, mexe nas coisas, toca-me nas partes, está visto que quer aviar-me num instante. Peço-lhe que saia, já lhe paguei, ninguém fica a perder, pede-me água, dou-lhe água. Vejo-a beber até deitar água pelos olhos, é uma criança, que idade tens tu mas ela desaparece mais rápido que a noite quando chega.

Sem comentários: