Decido-me a desfazer as malas. Tento encontrar-lhes o cheiro da minha casa mas a minha casa é esta onde agora moro, onde sempre morei a maior parte da minha vida. As ausências sempre foram fugas achadas para escapar ao que me incomodava em casa e naquele tempo, a maior perturbação era eu. Fugir de mim ou fugir de casa é um conceito velho. Fugir das palavras que ela quería que eu lhe dissesse, fugir das palavras que acabei por dizer para mim, já sózinho. Ainda bem que não lhas disse, tería sido um tremendo erro, afinal estava tudo certo. Nestas malas não há nada senão roupa, nem podería haver. Fugir para me prender tería sido uma condenação pior do que dizer palavras que não podem ser ditas. Assim está tudo bem, como deve ser, arrumam-se as coisas, nunca mais precisarei destas malas outra vez.
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