ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Telefone, não vejo quem é, não atendo, deves ser tu com nova estratégia, que triste não veres que já acabou, insistes, o telefone não pára, encosto-me ao parapeito, espero que apareça alguma vizinha para me dar conversa e abafar o som do telefone. Ninguém. Até os pombos desapareceram, sob o calor o tijolo dos telhados encarniça-se, também a minha paciência, e o telefone que não se cala! Ao longe o rio encandeia-me, cega-me, de repente é noite escura ao meio-dia a pino, o telefone queda-se finalmente, confirmo que eras tu, mas não eras. Não eras tu, não eras tu, que surpresa, era a colega de curso. Talvez lhe deva ligar, arranjar uma desculpa de que estava no duche, ou simplesmente que não ouvi o toque. Mas não ligo, não arranjo desculpas, estou cego até a noite abrir-me os olhos.

2 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Liga.
Há telefonemas que devem ser retribuídos. sabes lá que novidades te trará....Também qual o risco? (Mas isto sou eu, sempre muito curiosa e a morrer tantas vezes quanto os gatos).

Ela deve saber que acabou. Se calhar até soube antes de ti. Mas há mulheres que não aceitam um não. Têm que ser elas a (de)terminar.
Esquece-a.

Prepara-te para a noite que te abre os olhos. E novos horizontes.
Baci

Lalisca disse...

Tanta ansiedade eu sinto em ti...


beijos