Telefone. Se podes vir, não, não podes vir, que não me dá jeito, não é uma questão de jeito, sou eu que não te quero cá em casa, choraminguices, tenho mais que fazer, se já tenho outra, não é outra é a mesma de sempre, insultos, mais choraminguice, desligo. Telefone. Se lhe desligar o telefone na cara nem sabe o que me fará, desligo sem dizer nada. Telefone. Como posso eu ser tão frio, cobarde e tê-la enganado durante tantos meses, ela e outra, a outra é melhor que ela, se já lhe disse aquilo que nunca fui capaz de lhe dizer, talvez por isso nunca lhe tenha dito a palavra mágica, porque era à outra que dizía. Pouso o telemóvel. Durante algum tempo ainda ouço uns sons, depois regresso ao estirador, esqueço-me por completo. Se eu lhe tivesse dito que a de sempre é a noite alterava alguma coisa? Os monólogos são discursos insonorizados, são impermeáveis à interrupção para diálogo.
2 comentários:
Adiantava...
Há enigmas que as mulheres precisam de resolver para que noite se instale e a paz seja a companheira que desejas.
Bj de Lua(r)
Um destes dias a noite há de dizer que tem saudades do dia...
Beijos e até breve.
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