ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Ouço os teus saltos na rua, apuro o ouvido, na minha cabeça imagino-te a subir as escadas e de seguida os dedos a baterem à porta naqueles toques que só tu entendes, espero, espero ainda mais, não chegas, espreito à janela não vás ter-te arrependido, ao fundo da calçada vejo uma mulher de saltos altos a afastar-se, não és tu. Vá lá saber-se porque alucinei ou porque raio a memória foi desencantar estes sons, não és tu nem deves ser nos próximos dias, aliás nem tenho muita certeza sobre a tua volta. Estou de ressaca, qualquer barulhinho vai parecer-se contigo, até regressares curo-me, enxugo o tinto de vez e recupero a minha sanidade, quem sabe quando fores mesmo, mesmo tu, nem te oiça chegar. Abeiro-me do parapeito, como é triste ver os balões a agitarem-se sem a festa. Tomara já a noite e esqueço tudo.

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Por vezes conseguir esquecer é o melhor que nos pode acontecer.

Beijo de mar (independente da margem do rio)