ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Aí vens tu rua acima, os saltos a cravarem-se entre as pedras da calçada e o aceno para mim até ao parapeito onde me encosto. Vou deixar que subas e batas à porta, perguntas se não te vi lá em baixo a dizeres adeus, eu digo que não mas claro que perco a inocência quando esticas o beiço, rio e chamas-me parvo, beijo-te e por momentos o silêncio. Depois a janela aberta deixa entrar as vozes da rua e tu muito decidida fazes da minha sala o teu púlpito e corres com esses sons invasores. Do tema dos últimos dias nem sombra, acho fantástica esta tua capacidade de fazer de conta que estas variações com que apareces não existem, falas do tempo, da chuva e do calor, fechas a janela para que eu não me perca da tua conversa mas sinceramente pouco me entra do que dizes, estou mais ocupado a observar-te hoje e a comparar-te com o ontem. És muito mais parecida com o caír do dia do que possas imaginar.

1 comentário:

O outro lado do espelho disse...

Triste o cair do dia. Apesar da beleza do lusco-fusco...

(Sigo a história, fascinada. Estou presa a este blog, e antes que a noite caia...)

Bj