ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Há uma serenidade enorme no começo da semana, não sei se te fartas de mim e te dás essa pausa mas eu sinto e não te digo, este intervalo é um alivio quase visceral, quase faminto. Parece que preciso de te ter em falta, não que pense em ti neste dia de forma especial ou diga para mim que não vens quando o entardecer se recolhe em absoluto e se cheira a aproximação da noite, é mais daquele fosso que me atrai e me afasta de ti. Às vezes cansas-me. Chego mesmo a ficar farto, saturado de tudo o que vem de ti. Mas depois, inexplicavelmente, parece ser esse o maior dom que fascina: o saber como és, o verde das emoções, o descontrole da fala, o acalmar da lava quando entro em ti. Às vezes farto-me de mim mesmo mas ainda bem que não o sabes. Estas coisas são tão intimas que só as digo à noite, essa morre e no dia seguinte outra será.

4 comentários:

Arábica disse...

...tão intimista que até eu, depois de ler, me transformo em noite.

-já "não" li.


:)

marina disse...

Antes que a noite chegue...
vou passear por Veneza!

:)

AnaMar (pseudónimo) disse...

Apaixonada por este espaço, por esta escrita, revejo-me na inquietude de não estar calada, no som dos saltos com que me afasto e na escova de dentes que deixei em casa.
Um beijo.
Li e reli...

gabrielle disse...

"Minha mãe, de noite
Não entendo nada:
Será que as cores nascem
Só de madrugada?"

Maria Alberta Menérespartilho a dúvida, ou será a vontade(?) de que a noite também aconteça em mim e não só nas cores em que me envolvo para que o dia seja...

parabéns pela capacidade de expressão, incontornável a sua escrita