ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Disse à Russa que se calhar o melhor é ir à policia e tentar saber noticias dela, ao menos os profissionais podiam ajudar a descobrir alguma coisa. Mas a mulher cresceu para mim e apontou para a cabeça a falar aquelas coisas que parecem agarrar-se aos dentes, não percebi de onde veio aquela exaltação toda e nem deixava falar, que eu estava maluco e batia com o dedo na cabeça  insistentemente, não não e não muitas vezes. Calei-me murcho. Depois acalmou e perguntou que ia eu dizer se não era nada nem pai nem marido nem tio nem sabia nada da mulher, deixar assim melhor para ti, passa tudo com tempo e lá trouxe os copinhos e a garrafa da beberagem. Bebi e ela esfregou a mão grande no peito dela e disse dói aqui mas passa, não passa tudo mas passa, meu filho morreu e ainda dói mas eu viva e dói. Bebi outro de uma golada e ela também com uma palavra na língua dela que me pareceu assentar bem no momento mas não faço a mínima do que queira dizer. Dói é só isso que sei mas ela também sabe.

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