ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Assim que entrei na sala dei logo conta que o quadro não estava no sitio, uma coisa daquele tamanho ocupa espaço mas para mim é o equivalente a toda a casa quase como entrar numa gruta e ali ficar a descobrir os seus segredos e agora sem poder conseguir percorrer as suas galerias e lá permanecer o tempo que me apetece sinto-me violado. Onde está o meu quadro azul? A Russa levou-o e diz que está bem guardado e sem males mas ao pé de mim não vai ficar porque me faz males à cabeça e aqui e toca-me no peito e na barriga e na cabeça, insisto que o quadro é meu não tinha ordem de levar o que é meu e levantamos a voz. Pela 1ª vez aquele som de caramelo parece-me queimado e fala na sua língua nativa durante muito tempo tudo e mais alguma coisa que não percebo nada mas parece ser muito ameaçador porque aperta os olhos claros até ficarem como duas fendas no rosto bolachudo muito encarnado e o pano que tem na mão vai agitando na minha direcção com movimentos curtos mas semelhantes a um chicote. Quero o quadro azul já disse mesmo fazendo-me mal preciso desse mal em mim porque gosto de o sentir a magoar-me.

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