ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Pergunta-me que tenho eu que estou emburrado, burra é a tua prima ó taberneiro duma figa, mas palavra de honra que dou comigo a pensar na outra casada, fiquei parvo, nunca a imaginei casada, para mim sempre haveria de ser a minha rapariga dos saltos de martelinho toda vivaça e de cabelos a mudarem de cor como eu mudo de camisa e vai-se a ver casada como é que isto veio a acontecer o mundo dá cada volta. No fundo sinto-me envergonhado. Envergonhado. Não devía ter feito o que fiz. E ela também não devía ter deixado levar as coisas por diante, casada porra e vai deixar um gajo comê-la! Está bem que fui, não foi um sacana qualquer mas mesmo assim! E ainda me pergunta o taberneiro porque é que estou emburrado? Dá-me outro e mete na conta. Daqui até lá acima preciso de muito combustível para subir a calçada, entrar e lembrar-me da cena, será que ela se lembra? Dei-lhe para ela se lembrar e ela também me deu, é melhor nem me por a pensar naquilo senão fico aqui em pulgas e a outra? A do chinelo? Que saudades... Nem acredito que pensei nisto. Anda enche outra vez e põe na conta.

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