Dela restaram pegadas secas azuis de lá para cá que tento não pisar para não as apagar, passo ao redor, já pousei o meu pé ao lado das marcas tão definidas como se fosse um padrão do próprio tapete que tivesse sido urdido na fábrica, tamanhos diferentes, o meu um pé gigante comparado com a pequenez do desenho tatuado dela, cambiantes de azul conforme foi andando e perdendo a marca. Quase parece uma carta de despedida. Um aviso. Uma lembrança a desaparecer com o passar dos tempos, de lá para cá, de cá para lá. Porque raio fui eu adormecer naquele dia e não me apercebi que ela saíu? Já passei a casa a pente fino e não há mais nada que me diga que ela passou por aqui, nem sequer um cabelo, um chinelo solitário, qualquer coisa que pudesse deitar as mãos e fechar os olhos e apertar. Se a vizinha não a tivesse visto ía dizer que estava louco, melhor que a noite chegasse durante o dia pleno e tudo estaria sossegado.
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