ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Vem de toalha embrulhada como uma aparição entre o nevoeiro, sinto um arrepio à medida que se aproxima de mim e reparo que uma gota de água perfeita lhe pende na ponta do nariz. Pinta-me, diz-me, e estas palavras fazem tombar a gota perfeita como uma explosão de uma mina arreando paredes e destruindo os meus tectos a precisar de restauro à medida que desenrola a nudez do turco que a cobre. Tremo, sinto frio, não tenho paredes para me tapar, só a humidade do vapor de um banho ou a limpidez com que a vejo. Pinta-me e agarra o pincel manchado de azul na minha direcção, cor de noite, antes que a noite me chegue.

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