ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Agarro o chinelo sobrevivente e entrego-lhe, é um pertence dela, queres tomar um banho, faz-me impressão a sujidade que tem em cima mas suponho que é uma forma de a aquecer, são poucos os trapos que tem em cima, o silêncio que a levanta e os olhos a perguntarem onde é a casa de banho são surpreendentes, nunca conheci uma mulher que não falasse pelos cotovelos até a muda que vendía jogo pelos restaurantes da baixa e que já se finou fazía mais barulho que esta, vou à frente para ensinar o caminho e as toalhas, o sabonete, se quiseres shampoo embora cabelo tenhas tanto quanto eu e espera que eu saia não te dispas já, bato com a porta, não a quero ver nua, é uma miuda é uma miuda apenas uma miuda desgraçada, uma puta digo para mim, mas vou sempre parar à garota e não saio disto e ao chinelo sujo e miserável e sinto-me mal e triste, quem devía tomar o banho era eu, lavar esta tristeza e escorrê-la de mim desde que regressei.

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