Acordei com a sensação de ter corrido muito ou ter dormido a correr mas é uma mania, dormi o que sempre durmo. De volta ao estirador encara-me um carvão muito trabalhado na ponta dos dedos, sombras e contraste no fio carregado que deixa vestigios de pó acumulado. Desenhei-a. Não sei porquê, mas reproduzi a cara dela quando se voltava para mim naqueles repentes depois de eu lhe ter dado uma resposta desconcertante, é esse o rosto que guardo, uma traquinas de nariz empinado e com um pedaço do cabelo a caír-lhe sobre o sobrolho, a boca ligeiramente aberta deixando antever os dois dentes da frente a lembrarem-me duas chicletes ao alto. Enquanto estivemos juntos nunca a desenhei e até ignorei os pedidos velados dela para o fazer, não sei, não tinha vontade, achava descabido. Agora deu-me para isto. Foi ontem à noite, a noite é que deu nisto.
1 comentário:
A(s) noite(s) em que as memórias insistem em perseguir-nos.
:-D
Bj
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