ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Tudo normal, não vens, nem era preciso o telefonema a avisar e muito menos a choradeira em que se transformou, as recriminações, a chantagem e especialmente a mensagem velada sobre uma futura vingançazinha. Fiquei sem perceber se fica para quando regressares ou é para ser executada durante a tua ausência e se achas que me incomodas com essas charadas em que a intenção é semear a suspeita, azar, não consegues, namorisca à vontade, não preciso de te dar carta de alforria para fazeres o que bem entendes, não és minha propriedade mas eu também não sou obrigado a corresponder-te como macho ciumento como estavas à espera. É uma chatice quando se lança o isco e depois não se aguenta quando o peixe dá aqueles esticões... Choras porque a conversa não te correu de feição, ficaste contrariada, se calhar esperavas que eu te desse uma ordem, não vais! ou então: se fores, já sabes, não te queixes... aquele mau-estar que fica suspenso e a moer. Mas o que eu dispensava mesmo, mesmo foi a última tirada do não sentes nada porque não me amas, e pronto lá vamos nós caír na banalidade, na repetição desta palavra, usas esta palavra como dinheiro e sabes que mais? Conseguiste mesmo aborrecer-me, vai, vai e goza lá os teus dias com quem quiseres e dá-me paz. Eu e a noite. Apetece-me gritar enfim sós.

2 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Às vezes essa mulher parece-se tanto comigo, que até assusta, lol :-D

(E não está enganado! Regresso a mim tantas as vezes em que ensaio fugas e... parto).

(Aproveitando a interessante a abordagem doo comentário de Attitude Problem, que me deu coragem para falar sobre o teu nick, a mim, foi pela fonética que imaginei o "éle bardo" recorando-me de imediato o poeta Al Berto.

Como não me canso de dizer é este o fascínio da escrita: quem escreve sabe, quem lê interpreta de mil e uma maneiras.

Besos

Lalisca disse...

Agradeço quando não tenho que aturar laivos de macho ciumento...


beijos