ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Adivinha, não faço idéia, vá lá adivinha, não sei, faz um esforço, por muito que te conheça só mesmo sendo um vidente para saber o que vai nessa tua cabeça mas insistes entusiasticamente e eu de braços cruzados à espera dessa grande noticia fico receoso de não a achar tão maravilhosa quanto tu a queres fazer parecer, não adivinhas? Abano a cabeça, espero, fazes render o peixe dando-me uma última oportunidade, estes joguinhos na verdade aborrecem-me, nunca tive estaleca para isto, queres contar conta senão pára lá com isso, podíamos ir para fora na semana dos feriados, não é uma boa idéia? É uma péssima idéia, é exactamente nessa altura que mais gosto da cidade, vazia, o ar fica diferente, as pessoas que ficam são as diferentes, o meu plano é ficar aqui mesmo. Do charme saltas rapidamente para as mãos nas ancas, nada do que eu digo te satisfaz, não percebo porque estamos juntos, ora essa é outra observação que deverías colocar a um vidente se bem que eu acho que estas coisas não têm de ter forçosamente uma razão, mas não digo nada, olho para ti, vejo a tua silhueta e lembras-me uma bilha de barro única feita à mão, duas asas elegantes deixando passar a luz que entra pela janela aberta da minha sala, sinto sede e quero que me sacies mas tu agarras na carteira e sais disparada. Nem me mexo de onde estou, espero pela noite para me molhar a garganta seca.

3 comentários:

Shui disse...

Os teus textos (em diário ou não), espelham uma reserva de irreverência bem visível.
Gosto desta história, sem saber mesmo se de amor ou ódio.
Intrigas-me.






(Aguentas as filas para comprar o melhor bolo de chocolate do mundo?!)

Lalisca disse...

Confesso que tanto gosto da paz duma cidade vazia como aquela urbanidade intensa que nos afoga!

Espero que no entardecer tenhas de facto saciado a tua sede!


beijos

O outro lado do espelho disse...

...Entro na noite para sonhar.
E saciar a sede.

Bjs