ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Ao abrir-te a porta a sensação que tenho é que passou muito tempo sem te ver, muito mais do que um par, três dias, mas acho que é tudo uma questão de se saber ocupar as horas quando estamos sózinhos ou quando nos habituamos à constante presença de alguém e de um momento para o outro essa rotina interrompe-se. Deve ser por isso que te acho diferente, não muito diferente, mas desigual nalguns gestos ou até na forma como ouvi os teus saltos a galgarem os degraus. Abraço-te e nisso garanto que o meu corpo reconheceu de imediato o teu, sinto-me bem por te apertar contra mim mas dura pouco, empurras-me e rematas o afastar de braços esticados com um só pensas nisso, nisso o quê e arrependo-me logo de o ter dito, assim como me arrependo do meu corpo ter gostado do reencontro, não é nada de sexo, mas como me trataste mal acho que também mereces ficar na dúvida e assim sendo ficamos os dois a destoar na sala. Lembro-me de uma sala de espera de um dentista. Estamos para o mesmo mas ninguém vai falar das suas cáries ao desconhecido que se senta ao nosso lado. A janela aberta deixa entrar sons que parecem despropositados neste instante, acho que o melhor sería o silêncio completo mas como é impossível reter o fim da tarde encosto o meu corpo ao parapeito e sinto-me bem por ele me aconchegar.

3 comentários:

O outro lado do espelho disse...

Não é impossível reter o fim da tarde.
Impossível é o esquecimento das tardes retidas.

E as memórias que insistem em assombrar.
Bj ao som de IRIS...

Lalisca disse...

Muitas vezes debruço-me sobre o parapeito a ouvir a rua, gosto dos sons urbanos!

beijos

Lalisca disse...

Modesta sugestão: porque não retirar a verficação de letras, o acto de comentar torna-se muito mais fácil.