ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Sabes que dia é hoje? Segunda, mas tenho a certeza que esta não é a resposta que devería dar, aproximas-te do estirador e desenhas uma casa, um sol e um mamarracho qualquer que verdade seja dita, o desenho não é talento que tenhas, dia da criança dizes em voz estridente com a folha acima da cabeça. Não sou capaz de mostrar emoção, as celebrações por cada dia do ano tornaram-se tão corriqueiras e fora de contexto que me aborrecem. Qual é a diferença pergunto, quase me bates, falas dos direitos das crianças e de consciência, rebato com a delinquência, fome e analfabetismo, ficas furiosa e nem percebo porquê, amachucas o papel e atira-lo fazendo pontaria à minha cabeça que devolvo com um golpe de guarda-redes, chamas-me parvo, chamo-te ingénua, chamas-me descrente, chamo-te crédula, ficas séria e perguntas se não gosto de crianças. Caíu a noite e eu nem me apercebi do crepúsculo.

3 comentários:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Sentires semelhantes.
Entendo agora.
Mas eu continuo a gostar da palavra. Se a enfrentasses, talvez não a receasses.

Feliz Dia da Criança (aquela que existe dentro de nós e que nos faz sorrir e sentir... livres!) :-D

Bj

Arábica disse...

O incrédulo a desenhar no estirador das palavras a urgência do não feito, a crédula a rebater com o sonho, ainda.

Os extremos que se completam?


Boa semana, beijos

Lalisca disse...

Haverá sempre opinões divergentes, por acaso não gosto quando ocorrem no crepúsculo!


beijos