ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
Temos que conversar dizes tu, só espero que não seja aquilo, tu sabes o que é aquilo mas não digo nada, só te olho à espera que passe esta sensação de déjà vu e que o alivio me ponha à vontade outra vez. Temos mesmo de conversar... a sério. É aqui que fico mais aflito. Conversar. Não podemos estar como estamos? está tudo tão bem, o sexo é magnifico e até aquele episódio da tua estadia acabou por ser uma experiência de registo, que mais queres, estragar o que é perfeito? Calo-me claro, se te dissesse isto quase aposto que choravas, o rosário das frases convencionadas como não sou só um corpo nem a tua puta de serviço, podemos ainda estar melhor ou no apogeu, que queres de mim, não pensas em nós, seríam a legenda da tarde. Mas o que me preocupa mesmo nem é tanto o temos de conversar, é esse intervalo parado e abissal do a sério depois das reticências. Se trocassemos de posições sería a minha vez de te deixar aflita e encostar-te à parede com um mas nós não somos a sério? Palavra que não sei se isto é uma metamorfose se um suicídio.

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

Em exclusivo comento-te porque me fascinam estes relatos, mesmo sem saberes que és. apenas que escreves as palavras que preciso de ouvir.

E assim, sou uma leitora assídua. espero que não te aborreças.
Bj