Por cada toque na porta o coração quase me salta. Aguento-me. Tudo me vem à boca em golfadas e a veia do pescoço dói-me por ser tão doida nestes segundos em que me prendo ao parapeito da janela para não arrancar a porta e ver-te já. Preciso de esperar e mentir-te, fazer-te esperar enquanto os segundos, dois, três, quatro, cinco, já terão passado o bastante para não demonstrar a ansiedade que sinto. Ando até à porta e calco com força o chão para que me ouças vivo e longe da porta sem estar à tua espera. É agora. Abro e és tu. Não és tu. Fico a olhar-te e embora saiba que és tu confesso que não estava preparado para isto. Perguntas se não te deixo entrar e eu estou tão surpreendido que até perdi a voz. Pousas uma pequenina mala vermelha em cima do meu trabalho no estirador e aproximas-te da janela. Abres os braços ao longo do parapeito. O teu cabelo à contra-luz é uma chama incendiada. Lembro-me de ti morena e loura mas ruiva nunca te tinha visto e palavra que és uma nova mulher. Estou impressionado pelo teu silêncio sobretudo, meia-dúzia de palavras para entrar e esta encenação que me deixa intrigado e atiçado. Não és tu. A veia voltou ao sitio e neste momento tenho a certeza que o meu coração já deixou de bater, não o sinto no peito, tenho a boca seca e não consigo articular uma palavra. Viras-te, traças os braços e perguntas se não tenho nada para te dizer.
1 comentário:
Típico o assombro duma mudança que a maioria dos homens nem repararia :-)
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