ANTES QUE A NOITE CHEGUE

(SOLILÓQUIOS E METAMORFOSES)
A trabalheira que estes gajos tinham para fazer os tectos! De facto naquele tempo havía tempo que sobrava para fazer tudo e até para isto, e passado estes séculos eu estar aqui a pasmar de adoração a olhar para esta perfeição. E não havía cá nada de máquinas ou coisa em série, era tudo à unha, quanto muito um artesão a fazer um molde e depois o gesso, a flor de liz, uma perfeição, já não se fazem coisas destas. Já nada se faz perfeito, nada. Tudo é imperfeito e há um gosto pelo imperfeito. Aos anos que aqui vivo e no final de dar uma acontece-me ficar aqui a olhar para o tecto e aperceber-me desta beleza mesmo por cima da minha cabeça... Ele há coisas! Perguntas-me em que é que penso. Em nada. É melhor vestires-te e ires embora. Tenho de trabalhar e estou atrasado. E não telefones, sabes como abomino telefones, depois logo se verá como nos encontramos. Queres falar, dizes, agora é que queres falar, mas não te vestes e não vejo porque não possas fazer as duas coisas em simultâneo e vais de caminho para a minha casa de banho e eu atrás, sem entender onde arranjaste esse á-vontade para te movimentares pela minha casa. Lava-te. Eu fico aqui a olhar para o tecto.

1 comentário:

AnaMar (pseudónimo) disse...

A trabalheira que tenho para te deixar um comentário. Mas a escrita é irresistível e gosto que saibas que te leio:-)